domingo, 2 de novembro de 2014

Era tão alto aquele silêncio.

Era um silêncio absurdo de corpos e de espaços.
Somente o barulho dos motores dos automóveis que raramente por ali passavam, podiam, por milésimos de segundos, quebrar aquela áurea magnífica.
E tinha o frio.
Frio bom! Daqueles que exercem a função de aquecer.
Singeleza de presenças. Pequenos e médios insetos pairando sobre todos os objetos que haviam.
Uma luz destoante e artificial fixada no teto. Estranha, mas participativa. Ela também se declarava silenciosa, à sua maneira.
Gotas de chuva sob o telhado também dispersavam no tempo.
Branco e preto de paredes e sombras.
Seguíamos flutuando.
Ele no seu canto à beira da escada, envolvido em seu caderno de anotações.
Ela na cama em estado de inconsciência que a permitia descansar em sonhos.
Eu, extasiada com a possibilidade de olhar para dentro de todas as cenas.
Não queria dormir. Era tão alto aquele silêncio que toda oralidade se escondeu e as palavras só permitiam dedos. Dedos com canetas eufóricas.
Em retorno à parede, estavam novamente brincando os insetos.
Aqui é tão possível escutar o silêncio das coisas.



(Eu, ela, ele e nossos segredos.)
Itatiaia -  24 de outubro de 2014.


 

Um comentário:

CLARIDÃO disse...

quão simples é a escrita para estar tão bela!

adoro sua escrita despretensiosamente profunda!