Os sentimentos que conheço também me
doem. É possível que isso torne o título do meu blog bastante incoerente. Bem,
isso foi apenas um pensamento ligeiro que me ocorreu por agora. Na verdade o
que eu estou tentando entender é quando é que essa coisa de sentimento se esclarece
para quem se aventura nele. Tenho a sensação constante, e já faz alguns dias,
de estar completamente apaixonada. E trata-se de uma reflexão angustiante sobre
o fato, pois no fundo, tudo que eu queria era deixar-me tomar por essas sensações
de arrepio, de desejo, de saudade, de presença, de ausência, de ansiedade e de
uma constante vontade de estar perto, corpo no corpo. Não consigo! Eu tenho a
estranha mania de racionalizar tudo que se passa comigo e categorizar cada ação
para encaixa-la em um sistema que a ciência, a filosofia, a literatura, a
matemática, a biologia ou até mesmo a NASA consiga explicar.
Permito-me
sentir? Sim. Entrego-me, me liberto de tabus, deixo as experiências
proliferarem sobre meu corpo. Mas por pouco tempo.
Eu que
não defendo o tempo cronológico dentro da poesia, não consigo escapar dele
quando me dou conta de que a paixão apoderou-se de mim. E ela (a paixão), ora é
fulminante, ora é delicada e suave. Ela fica rodopiando na minha cabeça como se
fosse coreógrafo de escola de samba. Eu tento fugir das amarras que ela me
apresenta, mas sem perceber, lá estou eu, enforcada por ela, implorando por um
mínimo de oxigênio que ainda me permita respirar. Uma mistura de alegria e
desespero.
Dormir? Já não consigo há dias. A
paixão também rouba o sono. Deixa-me na vigília do sentimento, tentando conexão
com o alvo dela pela madrugada afora, pois ela acredita em telepatia, em todos
os misticismos possíveis e na energia natural que ela afirma possuir.
Chega de usar a terceira pessoa. Já
não entendo mais o que eu quero escrever. A paixão e Eu já não nos dissociamos mais.
O que ela faz é o que eu faço. Ela me possuiu como uma daquelas entidades
invocadas.
No fundo eu estou bastante
intrigada com a maneira com que tudo começou. Eu me apaixonei antes... Antes
mesmo de estar apaixonada. Me apaixonei antes do beijo, antes do sexo, antes de
me dar conta de que eu precisa me dar conta. Não me apaixonei pelo gênero, pela
estética, nem pela inteligência, como seria mais provável acontecer. Me
apaixonei pelo que eu não via, pelo que eu não tinha. Me apaixonei pela
delicadeza de nem mesmo ser percebida naquela fantasia toda que eu criava
quando estava próxima daquele ser.
O meu desejo é tão imenso que conduz
minha direção de forma a contrariar todas as minhas razões. E eu já não consigo
mais textualizar essa coisa estranha que é estar apaixonada. Vou me refugiar em
Roland Barthes pra finalizar o que meus dedos já encerraram.
O Coração é o órgão do desejo (o coração se dilata, falha, etc.; como o
sexo), tal como ele é retido, encantado, no campo do imaginário. O que é que o
mundo, o que é que o outro vai fazer do meu desejo? Essa é a inquietude que
reúne todos os movimentos do coração, todos os "problemas" do coração.
(Fragmentos de um discurso amoroso, pag. 64)